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Eu não *estou* mais nutricionista...

Calma! Eu vou explicar!


Já venho comentando aqui como muitas coisas têm mudado na minha vida, e não estou falando simplesmente das mudanças mais recentes, como a mudança de país. Estou falando das transformações que venho vivendo, entre muitas dores e delícias, há mais de uma década, que vêm culminando inclusive no recálculo dos meus rumos profissionais.


“Tudo começou” quando vivi transtorno alimentar, há uns 12 anos, e me deparei pela primeira vez com o cenário da psicoterapia, com a ideia de autoconhecimento. Aquilo foi novidade para mim, que sempre havia buscado respostas de fora para dentro. E foi também dificílimo - tão doloroso que eu fugi e voltei diversas vezes para a terapia nos anos seguintes.


E lá naquela época, no processo de me recuperar do transtorno alimentar, de fazer as pazes com meu corpo e com a comida, eu também encontrei algo que fez sentido para mim e me moveu de forma transformadora: ajudar outras pessoas como nutricionista. Me deparei com uma Nutrição mais gentil, mais profunda, mais compassiva, que fez tanto sentido para mim que eu vesti sua camisa e passei a divulgá-la aos quatro ventos. Foi inclusive assim que surgiu este perfil no instagram.


Foi assim que, nos últimos 8 anos, eu passei a ser a Nathália nutricionista “sem dieta”. Sim, eu realmente me vesti disso. Vivi isso, respirei isso. Compulsionei nisso. Passei a ser referência na área, atendi centenas de pacientes, dei mais de 50 palestras pelo Brasil, e por 5 anos co-fundei e guiei um instituto de ensino para ajudar outros nutricionistas a também atuarem desta forma. Foi muito enriquecedor, e sou grata por ter vivido tudo isso. Mas vou contar também: foi exaustivo. Eu não conseguia parar de trabalhar, de atender, de produzir. Eu *era” essa missão. Nem mesmo quando minha filha nasceu, eu parei de trabalhar. E por mais que eu estivesse apaixonada pela “Nutrição sem dieta”, a minha obsessão me levava constantemente à fadiga e alimentava minha distimia (uma depressão leve e constante). E em soma com a nova maternidade e a pandemia, a depressão veio forte, impondo uma entrega para a psicoterapia.


E então percebi algo que quase me fez cair da cadeira: eu continuava tendo compulsão - não mais pela comida, ou pelo corpo perfeito - mas eu estava tendo compulsão com o trabalho - algo que, assim como a busca insana pelo corpo perfeito, é extremamente valorizado pela sociedade. Mas mesmo percebendo isso, eu não conseguia parar, mesmo sentindo dor.


Nos últimos seis meses, a mudança de país foi o convite que eu precisava para atender o que minha antiga terapeuta já havia me recomendado várias vezes: você precisa pausar um pouco. E então, eu enfim pausei. Enfim, pausei a “Nathália nutricionista”, como já vinha comentando aqui.


Nos últimos seis meses, que foram muito intensos, foquei não só na nossa adaptação aqui a um novo país, mas resolvi olhar para mim. Sim, foi um privilégio. Me permiti não mais ser uma profissional, mas uma pessoa. Uma mulher, uma menina, uma mãe. Voltei, então, para a terapia e a conhecer quem era a Nathália não nutricionista. E gente, vou contar para vocês: ela é bem legal (rsrs)!


Resgatei da minha infância sonhos antigos, como a patinação, a escrita, as poesias, a inventividade: aquela menina que inventava moda, mas que foi, pouco a pouco, sendo moldada e conformada em retidão durante a vida. Resgatei características peculiares minhas, que quando mais nova eu havia suprimido ao tentar me encaixar. E nesse processo, revisitei meus sonhos profissionais de infância também.


Por isso, as coisas vêm mudando um pouco por aqui. Talvez vocês já tenham notado. Pouco a pouco, passei a compartilhar mais aqui sobre minha vida, sobre meus hobbies, sobre meus escritos e poemas, sobre minhas reflexões.


E junto a essas mudanças, outras ocorreram, como a suspensão do meu registro profissional de nutricionista. Por isso o título impactante desta postagem, pois sem registro profissional, não posso mais realizar as atividades exclusivas do nutricionista, como atendimentos individuais. Pois é, dei uma parada no meu eu nutricionista. Então, pelo menos no futuro próximo, eu não “estou” mais nutricionista, isto é, não estou realizando atendimentos em Nutrição.


Nos próximos tempos, darei mais vazão a uma parte minha que ficou tão adormecida: a escritora. E o que aprendi e aprendo na Nutrição, na área dos transtornos alimentares, no meu processo de recuperação de transtorno alimentar, continua em mim e continuará reverberando aqui, é claro, mas agora de forma diferente: não mais através dos atendimentos, mas através das palavras - com conteúdos e histórias que envolvem o universo dos transtornos alimentares e do comportamento alimentar - essa área que me despertou tanta paixão. Continuo também com meus compromissos como professora de algumas pós graduações e também com eventuais sessões de supervisão de mentoria para nutricionistas.


Não sou mais a Nathália nutricionista sem dieta.


Sou a Nathália criativa, poética, com hobbies peculiares (vide tecido acrobático e patinação no gelo), formada em Nutrição, pós graduada em transtornos alimentares, que escreve histórias e conteúdos na área.


Pode parecer a mesma coisa, mas não é. O calorzinho no meu peito confirma!


E aí me vem à mente algo que escuto desde criança, geralmente com desaprovação: que invento moda. Mas hoje isso me vem com um sorriso: sim, eu invento moda mesmo!


Bem vindos(as) a uma nova era!



Com o meu livro "Em Paz com a Comida", escrito em 2018. Lá naquela época, meu lado escritora já começava a querer aparecer!

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