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Nathália Petry

Até onde você iria pelo corpo perfeito?

Temos falado, recentemente, muito sobre o advento da obesidade. O crescimento da prevalência do sobrepeso e obesidade, sobretudo na infância, tem alarmado a população e feito com que fiquemos cada vez mais preocupados com comida. Mas o que talvez não sabemos é que os transtornos alimentares são o outro lado da moeda. E eles têm crescido silenciosamente e assustadoramente em paralelo à obesidade.

Apesar de não termos números exatos no Brasil, pois são doenças em geral silenciosas e pouco relatadas, é possível ver esse crescimento. E, se você parar para pensar, é bem provável que você tenha um amigo, ou um conhecido, ou um amigo de um amigo, ou já ouviu falar de alguém, que já sofreu ou sofre de T.A.s, não é mesmo?

Em 2013, a NEDA (National Eating Disorders Association) lançou uma campanha de conscientização que tinha como slogan: "Todo mundo conhece alguém com transtorno alimentar", trazendo que todos nós conhecemos alguém ou já ouvimos falar de alguém que possui ou possuiu um transtorno alimentar. O objetivo desta campanha era alertar como estas doenças estão grandemente ao nosso redor.

Mas eu ainda vou mais longe para nos fazer refletir que estes essas doenças psiquiátricas, que levam a muitos problemas de saúde, e inclusive à morte, estão tomando proporções alarmantes. Veja os dados abaixo:

Estima-se um terço das jovens mulheres diagnosticadas com diabetes tipo 1 sofra de distúrbios alimentares ou se incomode com seu próprio peso.A diabetes tipo 1 é caracterizada por uma secreção insuficiente de insulina, o que prejudica a absorção e metabolismo de glicose (açúcar). Assim, esses pacientes precisam fazer uso de insulina externa para que seu organismo metabolize sua alimentação corretamente. Quando não controlada, a diabetes tipo 1 pode trazer riscos e problemas à saúde do indivíduo, desde pequenas alterações a grandes problemas de saúde, como problemas de visão, de circulação, em vários órgãos e até mesmo tendo consequências gatais.E tem sido comum ver indivíduos com DM tipo 1 entrando em um quadro de transtorno alimentar, no qual acaba não fazendo o correto controle da sua condição (muitas vezes omitindo o uso da insulina). Isso significa que ele não permite que suas células recebam a nutrição adequada, e, ainda, que seu sangue mantenha níveis alarmantes de açúcar, pondo sua saúde em grave risco. E eu acabei escrevendo este texto para vocês hoje, porque me deparei com a notícia de Lisa, que, no ano passado, foi uma das muitas jovens que perdeu a vida devido a este quadro frequentemente chamado de diabulimia (diabetes + bulimia nervosa). Vocês podem ver a notícia aqui. Ainda, segundo Gilchrist e Lenney (2008) a pressão da mídia e as extremamente magras modelos e celebridades têm bastante impacto também em indivíduos com fibrose cística. Pra quem não sabe, a fibrose cística é uma condição genética que faz com que as secreções produzidas pelo indivíduo sejam mais espessas e mucosas do que nos indivíduos que não possuem essa condição. Isso traz muitas manifestações clínicas, incluindo problemas respiratórios e digestórios, que diminuem a expectativa de vida do indivíduo. É uma doença que exige muita atenção. Felizmente, esta expectativa pode ser aumentada quando uma boa nutrição e o tratamento adequado e cuidadoso - o qual exige bastante dedicação - são aliados. Assim, é sabido é que uma correta nutrição e não deixar faltar calorias e nutrientes no organismo são primordiais para uma boa qualidade de vida deste indivíduo. Então, vocês conseguem imaginar o que acontece quando um transtorno alimentar é desenvolvido em um destes indivíduos, certo? A não realização de refeições, a alimentação em quantidade insuficiente e purgações, ou seja, os comportamentos de um transtorno alimentar, podem trazer consequências muito ruins para a saúde deste indivíduo, como a piora da sua condição, e até mesmo trazer consequências fatais. E, assim, gente, eu paro para pensar: Ao fazer um mau controle de suas doenças, essas pessoas colocam sua própria vida em risco! Isso não é um dado muito alarmante? Isso não é assustador? :(

Mas e nós, população saudável, também não temos feito isso?

Quantos medicamentos perigosos temos usado? O quanto temos nos feito passar fome? Quantos procedimentos sem certificação temos nos submetido?

Quando olhamos para a campanha lançada pelo Genta (Grupo de Estudos de Nutrição e Transtornos Alimentares), que coloca que 1 em cada 6 mulheres trocaria 5 anos de sua vida para ter o que consideram como peso ideal, percebemos que estamos vivendo em uma tremenda insatisfação corporal e uma incessante busca pelo corpo perfeito!

O Fantástico, no domingo passado, trouxe também a peregrinação de mulheres brasileiras que se submetem a cirurgias estéticas clandestinas na Venezuela, arriscando suas vidas. Só em setembro, segundo a reportagem, foram 2 brasileiras mortas. Neste ano, já foram mais de 15 mortes.

Sim, gente, nós, como população estamos adoencendo! E eu volto a reforçar que talvez o problema de saúde pública principal não seja a obesidade, a diabetes mellito, a hipertensão... talvez, muito antes do que isso, estamos convivendo com um grandíssimo problema de saúde pública que é a insatisfação corporal e a constante busca por um corpo perfeito. E isso tem acabado com a nossa saúde mental e também a física! E, como vimos acima, também tem acabado com nossas vidas.

A partir disto, peço a vocês que reflitam:

  • Por que é tão importante ser atingir a magreza?

  • Por que ser tão magro está tão vinculado a uma vida feliz e saudável?

  • Por que deixamos que nossa aparência tenha tanta importância?

  • Por que deixamos nossa vida na espera até chegarmos em certo peso?

  • Por que arriscamos nossas vidas em busca de um corpo perfeito?

Será que não estamos precisando desesperadamente fazer as pazes conosco mesmos? Será que não precisamos fazer as pazes com a comida? Será que não precisamos buscar um relacionamento diferente com o corpo e a comida? Afinal, são relacionamentos que vão durar a vida inteira!

E do jeito que estamos encarando o corpo e a comida hoje, estamos mantendo um relacionamento bastante disfuncional com eles.

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