Temos falado, recentemente, muito sobre o advento da obesidade. O crescimento da prevalência do sobrepeso e obesidade, sobretudo na infância, tem alarmado a população e feito com que fiquemos cada vez mais preocupados com comida. Mas o que talvez não sabemos é que os transtornos alimentares são o outro lado da moeda. E eles têm crescido silenciosamente e assustadoramente em paralelo à obesidade.
Apesar de não termos números exatos no Brasil, pois são doenças em geral silenciosas e pouco relatadas, é possível ver esse crescimento. E, se você parar para pensar, é bem provável que você tenha um amigo, ou um conhecido, ou um amigo de um amigo, ou já ouviu falar de alguém, que já sofreu ou sofre de T.A.s, não é mesmo?
Em 2013, a NEDA (National Eating Disorders Association) lançou uma campanha de conscientização que tinha como slogan: "Todo mundo conhece alguém com transtorno alimentar", trazendo que todos nós conhecemos alguém ou já ouvimos falar de alguém que possui ou possuiu um transtorno alimentar. O objetivo desta campanha era alertar como estas doenças estão grandemente ao nosso redor.
Mas eu ainda vou mais longe para nos fazer refletir que estes essas doenças psiquiátricas, que levam a muitos problemas de saúde, e inclusive à morte, estão tomando proporções alarmantes. Veja os dados abaixo:
Estima-se um terço das jovens mulheres diagnosticadas com diabetes tipo 1 sofra de distúrbios alimentares ou se incomode com seu próprio peso.A diabetes tipo 1 é caracterizada por uma secreção insuficiente de insulina, o que prejudica a absorção e metabolismo de glicose (açúcar). Assim, esses pacientes precisam fazer uso de insulina externa para que seu organismo metabolize sua alimentação corretamente. Quando não controlada, a diabetes tipo 1 pode trazer riscos e problemas à saúde do indivíduo, desde pequenas alterações a grandes problemas de saúde, como problemas de visão, de circulação, em vários órgãos e até mesmo tendo consequências gatais.E tem sido comum ver indivíduos com DM tipo 1 entrando em um quadro de transtorno alimentar, no qual acaba não fazendo o correto controle da sua condição (muitas vezes omitindo o uso da insulina). Isso significa que ele não permite que suas células recebam a nutrição adequada, e, ainda, que seu sangue mantenha níveis alarmantes de açúcar, pondo sua saúde em grave risco. E eu acabei escrevendo este texto para vocês hoje, porque me deparei com a notícia de Lisa, que, no ano passado, foi uma das muitas jovens que perdeu a vida devido a este quadro frequentemente chamado de diabulimia (diabetes + bulimia nervosa). Vocês podem ver a notícia aqui. Ainda, segundo Gilchrist e Lenney (2008) a pressão da mídia e as extremamente magras modelos e celebridades têm bastante impacto também em indivíduos com fibrose cística. Pra quem não sabe, a fibrose cística é uma condição genética que faz com que as secreções produzidas pelo indivíduo sejam mais espessas e mucosas do que nos indivíduos que não possuem essa condição. Isso traz muitas manifestações clínicas, incluindo problemas respiratórios e digestórios, que diminuem a expectativa de vida do indivíduo. É uma doença que exige muita atenção. Felizmente, esta expectativa pode ser aumentada quando uma boa nutrição e o tratamento adequado e cuidadoso - o qual exige bastante dedicação - são aliados. Assim, é sabido é que uma correta nutrição e não deixar faltar calorias e nutrientes no organismo são primordiais para uma boa qualidade de vida deste indivíduo. Então, vocês conseguem imaginar o que acontece quando um transtorno alimentar é desenvolvido em um destes indivíduos, certo? A não realização de refeições, a alimentação em quantidade insuficiente e purgações, ou seja, os comportamentos de um transtorno alimentar, podem trazer consequências muito ruins para a saúde deste indivíduo, como a piora da sua condição, e até mesmo trazer consequências fatais. E, assim, gente, eu paro para pensar: Ao fazer um mau controle de suas doenças, essas pessoas colocam sua própria vida em risco! Isso não é um dado muito alarmante? Isso não é assustador? :(
Mas e nós, população saudável, também não temos feito isso?
Quantos medicamentos perigosos temos usado? O quanto temos nos feito passar fome? Quantos procedimentos sem certificação temos nos submetido?
Quando olhamos para a campanha lançada pelo Genta (Grupo de Estudos de Nutrição e Transtornos Alimentares), que coloca que 1 em cada 6 mulheres trocaria 5 anos de sua vida para ter o que consideram como peso ideal, percebemos que estamos vivendo em uma tremenda insatisfação corporal e uma incessante busca pelo corpo perfeito!
O Fantástico, no domingo passado, trouxe também a peregrinação de mulheres brasileiras que se submetem a cirurgias estéticas clandestinas na Venezuela, arriscando suas vidas. Só em setembro, segundo a reportagem, foram 2 brasileiras mortas. Neste ano, já foram mais de 15 mortes.
Sim, gente, nós, como população estamos adoencendo! E eu volto a reforçar que talvez o problema de saúde pública principal não seja a obesidade, a diabetes mellito, a hipertensão... talvez, muito antes do que isso, estamos convivendo com um grandíssimo problema de saúde pública que é a insatisfação corporal e a constante busca por um corpo perfeito. E isso tem acabado com a nossa saúde mental e também a física! E, como vimos acima, também tem acabado com nossas vidas.
A partir disto, peço a vocês que reflitam:
Por que é tão importante ser atingir a magreza?
Por que ser tão magro está tão vinculado a uma vida feliz e saudável?
Por que deixamos que nossa aparência tenha tanta importância?
Por que deixamos nossa vida na espera até chegarmos em certo peso?
Por que arriscamos nossas vidas em busca de um corpo perfeito?
Será que não estamos precisando desesperadamente fazer as pazes conosco mesmos? Será que não precisamos fazer as pazes com a comida? Será que não precisamos buscar um relacionamento diferente com o corpo e a comida? Afinal, são relacionamentos que vão durar a vida inteira!
E do jeito que estamos encarando o corpo e a comida hoje, estamos mantendo um relacionamento bastante disfuncional com eles.