Neste final de semana, estava folheando uma edição da revista Mente e Cérebro, que trazia uma matéria sobre as mudanças cerebrais que ocorrem nas mamães e papais quando o bebê nasce. Junto a esta matéria, havia uma sessão intitulada Curiosidades, na qual encontrei a informação mostrada na figura abaixo:
Confesso que um arrepio frio seguiu pela minha espinha e fiquei alguns vários segundos olhando pra essa informação. É realmente algo que nos faz pensar, não é mesmo?
Fiquei refletindo sobre as discrepantes diferenças sócio-econômicas que existem entre os países, sobre a dificuldade que é ter acesso a necessidades básicas como comida em muitos países, sobre as várias privações que muitas pessoas têm sofrido.
É irônico como temos tentado nos privar de comida por questões de padrões de beleza, enquanto há pessoas que são privadas por questões de não a terem mesmo...
E isso me fez refletir sobre toda a estrutura, perspicácia e dinâmica que há por trás dos padrões de beleza.
Pois é. Você já parou para pensar que os padrões de beleza sempre refletem a minoria da população?
Em locais e épocas, como, por exemplo, países mais pobres ou épocas de fome, em que há escassez de alimentos, são considerados bonitos (ou bonitas, porque geralmente o impacto é maior nas mulheres) aqueles que possuem maior reserva adiposa, ou seja, mais gordinhos.
Em locais e épocas em que há abundância de comida: Pá! As mais bonitas são aquelas mais magras, que conseguem se privar de tanta fartura.
Interessantemente assustador, né? Quando construímos esse cenário, percebemos que os padrões de beleza não existem à toa. Eles estão apoiados em questões econômicas e até mesmo políticas.
Desde crianças, recebemos informações e imagens de que existe um padrão a ser seguido (não só em relação à beleza, mas à instrução acadêmica, carreira, produtividade...). Estamos expostos à imagens, vídeos e informações que nos mostram como devemos parecer, as quais são apoiadas por elogios em relação àquilo que temos de "bonito" e críticas e caçoagem daquilo que temos "de feio".
Aquilo que temos de único, de diferente, passa a ser feio, e precisa ser mudado. E ninguém quer ser diferente, porque ser diferente traz uma sensação de não se encaixar. Quem é diferente, é visto como sem valor. Quando mais uniforme uma sociedade for, mais conforto psicológico ela trará.
E nesta constante busca de parecermos com um padrão, acabamos vivendo em meio a uma constante insatisfação. Sempre há algo a ser melhorado, a ser mudado, a ser consertado. Nunca somos suficientes. E estamos sempre insatisfeitos.
A insatisfação é um sentimento que incomoda, que mina nossa alegria de viver. E, assim, buscamos vários métodos para eliminá-la, e o mais rápido possível, de preferência!: novas dietas, novos alimentos, novos produtos, novos cremes, novos tratamentos, novas cirurgias...
Alguns autores trazem: "Se tivéssemos uma população muito satisfeita consigo mesma, com seus corpos e aparência, já imaginaram quantas indústrias de cosméticos, de produtos alimentícios, de emagrecimento iriam falir?"
Pois é... a constante insatisfação corporal gerada pelos padrões de beleza entrega bastante dinheiro e poder em muitas mãos...
Os autores também apontam a importância política destes padrões de beleza. Segundo a autora Naomi Wolf, a dieta é o sedativo político mais poderoso na história das mulheres. O foco no corpo feminino, na beleza e em manter-se dentro dos padrões aceitos pela sociedade são formas de manter as mulheres sob controle.
Uma população insatisfeita consigo mesmo e que investe muito tempo, dinheiro esforços em formas de contornar esta insatisfação, não tem muito tempo para pensar em assuntos importantes da sociedade, certo? E muitas vezes, nem parar seguir seus sonhos e ser feliz...
"A perfeição é a doença da nação A beleza machuca Mas você não pode reparar o que não consegue ver É a alma que precisa de cirurgia"
'Pretty Hurts', Beyoncé
Então, fica a reflexão: o que realmente é beleza? O que realmente é ser belo? Será que não estamos enxergando o mundo e nós mesmos através dos óculos dos padrões de beleza? Quanta beleza e cor estamos deixando de ver dessa forma?